Você acorda pela manhã e se prepara para mais um dia de trabalho. O despertador, ajustado para às 7h da manhã, já havia mandado uma mensagem para a sua cafeteira, precisamente às 6h45, para começar a esquentar o seu café. Enquanto você saboreia o café, a pulseira do seu relógio, conectado a um app do seu celular, começa a coletar informações sobre sua pressão sanguínea, taxa de glicose e outros dados. Por notar que a sua pressão está um pouco acima da média, o app já encaminha uma mensagem ao seu médico com as leituras mais recentes. Antes mesmo que você saia de casa, seu médico já respondeu, agendando uma consulta para hoje à tarde. Junto com o compromisso em seu calendário chega, em anexo, uma receita para a compra de comprimidos para reduzir a pressão.
Saúde 4.0 e seus desafios
O cenário acima ainda não é uma realidade, mas caminha rapidamente para sê-lo. As tecnologias que permitem tal nível de monitoria e conexão entre dispositivos já existem: Wi-fi, aplicativos para celular, IoT, wearables inteligentes. Falta apenas uma aplicação ou sistema que unifique todas essas tecnologias. Na área de Saúde, tais ideias têm sido discutidas acaloradamente e com cada vez mais frequência, uma vez que mudam completamente a maneira de se pensar em diagnósticos, tratamentos e geração de dados e informações sobre um paciente. Esse novo paradigma está sendo chamado de “Saúde 4.0”, inspirado no mesmo movimento, já em curso, da Indústria.
Dentre os principais desafios gerados pelas novas tecnologias e a imensa troca de informações que elas propiciam, merece destaque especial a questão da segurança e privacidade dos dados de pacientes. Como garantir que a identidade de um paciente não seja transmitida por engano a outro médico? Como manter um registro confiável e inalterável de exames médicos realizados ao longo de toda uma vida? Como tornar seguras e privadas todas as conversas entre médico e paciente, evitando que essas informações sejam utilizadas para fins de propaganda ou profiling?
Blockchain: Como funciona
A resposta pode estar em uma outra tecnologia, chamada Blockchain. Embora seja mais conhecida por permitir a existência de moedas virtuais, como a Bitcoin, as aplicações que se utilizam da Blockchain vão muito além do setor financeiro. Entender como funciona essa tecnologia não é tão difícil: imagine um livro-razão, como aqueles utilizados em escritórios de contabilidade, em que cada página tem registrada a data e a hora em que foram inseridas informações e um índice para todas as páginas anteriores a elas. Imagine ainda que, para que um contador registre algo em uma das páginas, ele precisa conseguir a aprovação de uma quantidade mínima de contadores no escritório para que seu registro seja válido. E, uma vez registrada, uma página não pode ser mais alterada.
Traduzida para o mundo da computação, uma Blockchain trata-se de um banco de dados distribuído, em que cada registro é criptografado e projetado explicitamente para ser à prova de alterações (o poder computacional exigido para se alterar um único registro dentro de uma Blockchain é maior do que o existente no mundo inteiro hoje!). Dessa forma, a Blockchain se torna o meio perfeito para armazenar todos os dados confidenciais e privados de um paciente, tais como exames, nome, endereço, histórico de doenças na família, mapeamentos genéticos, lista de medicamentos etc.
Outra característica importante da Blockchain é que ela trabalha com protocolos de segurança (os chamados Smart Contracts), que garantem transações seguras e confiáveis entre duas partes (humanas ou não). Por exemplo, suponha que você queira vender suas músicas pela Internet e evitar downloads indevidos. Para isso, é possível criar uma Blockchain que só irá liberar o download do arquivo após o pagamento da música. E, uma vez feito o download, o arquivo voltaria a ficar indisponível para aquele usuário. Note que a transação, neste exemplo, aconteceu entre você, o músico, e seu fã, que baixou o arquivo com sua música. Não houve a participação de nenhum intermediário (bancos, gravadoras etc.). Essa é outra característica importante da Blockchain: ao estabelecer um protocolo de confiança entre as partes, ela elimina intermediários.
Blockchain na Saúde 4.0
O diferencial trazido pela Blockchain dentro do conceito de Saúde 4.0 é o empoderamento dos pacientes no que diz respeito à posse e compartilhamento do histórico médico. Quando necessário, o paciente poderá liberar o acesso aos seus dados (por meio de uma chave criptográfica) apenas ao médico (ou hospital, plano de saúde ou laboratório) que o está atendendo naquele momento e que, de fato, precisem de uma informação específica.
Uma vez que, por natureza, Blockchains são (1) seguras (os dados são criptografados), (2) resistentes à mudança (alterar um único registro requer poder computacional além do disponível atualmente) e (3) auditáveis (embora criptografados, as transações entre as partes podem ser verificadas para garantir sua validade), ela se torna um meio ideal para atender às necessidades e desafios de uma nova era no campo da Saúde.
Bem-vindo ao futuro!