Desde que foi publicado, em 2018, o Rota 2030 gerou muitas discussões acerca dos mecanismos de operação dos recursos provenientes do capítulo três do programa. Entre eles, a principal regra estabelecida é que todo o montante depositado pelas empresas seja destinado às atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação executadas por Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs), instituições de ensino e empresas públicas que mantenham fundos de investimento destinados a empresas de base tecnológica e organizações sociais ou serviços sociais autônomos.
Há alguns anos, um ICT focado em desenvolvimento de tecnologias de hardware e software, tais como: microeletrônica, inteligência artificial, computação visual ou big data, provavelmente não teria suas soluções facilmente absorvidas pelo segmento da mobilidade. No entanto, o mercado automobilístico evoluiu, e o momento atual proporciona a criação destes incentivos direcionados à pesquisa e à tecnologia. Uma evidência disto é que agora quase tudo que se fala no setor está relacionado ao acrônimo CASE que, para muitos, define o futuro do setor automotivo:
Conectado: carros conectados já são realidade, e a chegada da tecnologia 5G ao Brasil, que deve ocorrer até 2021, permitirá que eles executem habilidades mais complexas, como compartilhar informações com outros veículos com maior rapidez e precisão.
Autônomo: o sonho de andar em um carro totalmente autônomo ainda está longe da realidade brasileira, porém a autonomia, mesmo a níveis baixos, já está presente em alguns modelos. Tecnologias como pilotos automáticos e sistemas de frenagem autônoma elevam significativamente a segurança nas ruas e já integram alguns veículos.
Shared (Compartilhado): a tecnologia já é utilizada por diversas empresas, como Uber e Waze, e há muito tempo está no radar das montadoras, pois é vista como uma das mais promissoras soluções para o trânsito caótico brasileiro.
Elétrico: o primeiro veículo movido a eletricidade foi desenvolvido em 1835 (sim, 1835), mas somente há alguns anos se tornou popular. Seja pelo apelo da não dependência de combustíveis fósseis, pela sobrevivência do planeta com a redução das emissões de carbono ou, simplesmente, pelo custo do combustível, é certo que a tecnologia veio para ficar.
Em todos os pontos acima há tecnologias brasileiras desenvolvidas, inclusive por ICTs, e disponíveis para serem aplicadas em projetos subsidiados pelo Rota 2030. As alternativas são inúmeras. Um outro aspecto importante a favor do uso dos ICTs brasileiros no capítulo três do Rota 2030 se dá pela variação cambial. Além do Brasil ser um exportador de mão de obra de tecnologia, inclusive com vários unicórnios fazendo sucesso mundialmente, nossa mão de obra local está barata devido à desvalorização do Real frente a outras moedas.
Resta que as empresas façam uso dos recursos disponíveis, estruturem os seus processos de P&D e comecem a operar no conceito de inovação aberta (open innovation), por meio dos ICTs e universidades, acelerando o processo de absorção das tecnologias globais e, talvez, desenvolvendo tecnologias próprias. Além disso, não podemos esquecer dos veículos movidos a etanol, tecnologia desenvolvida aqui e fomentada pelo Capítulo um do Rota 2030, por meio da redução de 3 pontos porcentuais de IPI.
É importante lembrar que os projetos desenvolvidos por empresas do setor automotivo em parceria com um ICTs credenciadas pelo Embrapii podem ter mais de 70% dos custos pagos pelo Governo, quando combinados ao Rota 2030 e à Lei do Bem.
No ELDORADO, estão à disposição do mercado automotivo as tecnologias core do Instituto, entre elas: inteligência artificial, microeletrônica, computação visual, big data e analytics, IoT, realidade aumentada, conectividade e integração com android auto e car play, desenvolvimento de clusters, telemetria e rastreadores, software em nuvem e segurança da informação, carregamento e gerenciamento de sistemas de energia. Todas elas amplamente aplicadas em empresas globais do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação.
Do lado da Pieracciani, um time de especialistas em funding para inovação é capaz de fazer com que as empresas aproveitem todo o potencial das diversas linhas de fomento disponíveis no Sistema Nacional de Inovação, combinando-as de forma ampla e segura.
André Janousek é formado em engenharia elétrica pela USP São Carlos, com especialização em Black Belt Six Sigma na Motorola University e MBA em Vendas e Marketing, atua há 25 anos em empresas de tecnologia, e por muito tempo conectando-as ao segmento automotivo. Especializado em desenvolvimento de negócios de serviços técnicos customizados de engenharia, tem trabalhado fortemente no segmento automotivo para conectar ICTs ao usuários do Rota 2030, facilitando o uso dos recursos disponibilizados pelo programa e a união entre o mundo automotivo e o tecnológico.
Francisco Tripodi Neto é sócio-diretor da Pieracciani Consultoria. Administrador de Empresas, MBA em Gestão Financeira, Auditoria e Controladoria pela FGV. Consultor especializado em gestão de projetos de Inovação Tecnológica, ferramentas e modelos de gestão. É instrutor do programa I-BELT de certificação de agentes da inovação. Implementou sistemas de gestão de portfólio e priorização de projetos. Coordenou o desenvolvimento do software de Gestão da Inovação, alinhado às exigências do MCTI e da Receita Federal do Brasil.
Artigo publicado na Automotive Business- 10/03/20